A CEIA NAS COMUNIDADES CRISTÃS PRIMITIVAS ( UNDERGROUND)
Com os intensos poderes de morte que rondavam a comunidade cristã primitiva o principal ato do culto cristão era a Ceia do Senhor, que ao contrario do nosso feito celebrava mais a ressurreição do que a morte de Cristo.A perseguição romana estava por assim dizer em seu auge.Os mártires cristãos perseguidos e mortos eram assunto do dia mesmo com comemoração dos santos em cultos mesmo, e a lembrança ainda recente narrada pelos pais da igreja, tudo isto elevava o nível dos encontros cristãos primitivos para um ato de celebração da ressurreição.Muito mais que a morte de Cristo, era festejado a esperança da vida eterna n’Ele e por Ele, pelo seu corpo e sangue então simbolizados.
Os primeiros encontros cristãos conforme apresenta vários teólogos primitivos se deram em casas de irmãos onde a ceia era o inicio e o motivo de ser daquela dinâmica, falava-se não apenas no pão e no vinho mas em refeições de comunhão que tinham inicio ou como auge a celebração da Páscoa Judaica.Se por um lado a igreja cristã primitiva teve como herança o culto judaico, fez distinção definitiva da sinagoga quando apresentou a novidade da ressurreição.Afinal esta é a novidade , esta é a boa nova, isto é o que nos distingue das demais religiões, o Senhor ressuscitou .Esta boa nova da ressurreição parece haver sido de alguma forma relegada a um segundo plano ou mesmo esquecida.A mesma ceia que é realizada na igreja cristã contemporânea não apresenta um Cristo que venceu a morte, mas um Deus sacrificado.Desprovida da alegria da mensagem da ressurreição a igreja adentra em outras esperanças talvez daquilo que nos pode dar esperança hoje, em teologias que substituem a esperança da vida eterna por bens materiais e possibilidades de inversão nas condições financeiras.Fazendo assim nos distanciamos cada vez mais da mensagem salvífica e transformadora que há em Cristo e a igreja sucumbe a direção mundana e capitalista : o homem é o que ele possui, e vale o que ele pode possuir.Isto não é muito diferente dos conceitos romanos que circundavam a igreja primitiva, já que em Roma os pobres não eram pessoas além de outros seguimentos da população completamente desprezados ( mendigos, mulheres, crianças, velhos, etc...) em um verdadeiro processo de exclusão social.Mas a ceia de igreja primitiva ( da qual todos estes seguimentos participavam ) anunciava não apenas a morte e ressurreição de Cristo, mas que estes seguimentos excluídos eram também participantes do Reino de Deus.O texto apresenta a realidade das refeições de comunhão que eram parte da mesma ceia, onde era desta forma anunciado também o banquete vindouro que é o reino de Deus.São todos estes valores que devemos fazer valer em nossas comunidades de fé.Reavivar é voltar ao inicio, quando tínhamos vida.
Outro ponto importante é que a dado momento da igreja, a ceia chegou a ser celebrada diariamente, e aos poucos passou a ser controlada pelos dirigentes das igrejas .Quanto a isto faço minha observação, de que toda a tradição tem sua razão de ser, se não houver controle para um certo numero de pessoas e ordem e direção, cada um faz como quer e já não haverá uma festa de amor, mas bagunça.O homem se corrompe fácil, como diz a escritura, “onde não há profecia o povo se corrompe...”.É mais que isto, ao seguimento ordenado da igreja, na medida em que surgiram os primeiros desentendimentos
na forma em como ministrar os elementos da ceia, teve a importância de dar ordem e regularidade aos mesmos.Por fim a tradição passou a determinar em que houvesse um líder da igreja a frente da ceia , um bispo, pastor ou pelo menos um que possa ter sido apresentado como investido daquela potencia.Eu por mim mesmo, entendo que nesta tradição de controle da igreja por parte da administração da ceia, existe certa ordem e necessidade, não do que diz respeito a quem tomar parte da ceia, mas em como administra-la propriamente e ensinar seu significado durante o ato.Seja como for mostra a imperiosa necessidade de voltarmos a origem do culto cristão e seus valores celebrados.A razão maior de nossa fé e esperança, estão reunidos propriamente no ato da ceia, se conseguirmos resgatar estes marcos da fé, seguramente estaremos dando o primeiro passo na reconstrução da fé cristã genuína, das revisões dos conceitos deturpados pelo mundo capitalista, conceitos estes inegociáveis com qualquer ideologia ou filosofia de vida, os conceitos da vida de Jesus Cristo.Outro ponto importante a resgatar, é o da refeição comunitária, que apresenta ser parte integrante do culto cristão primitivo, ao contrario do que hoje nós temos aquela apressada refeição na cantina da igreja com ingredientes quase sempre questionáveis quando muito comemos em pé, e apressadamente ( não por lembrança da páscoa ) pois já deu a hora de irmos para casa.Esta refeição comunitária de que saudosamente menciona o texto e nos faz sonhar, diz respeito a uma refeição em volta da mesa, uma refeição / culto, uma celebração do Agape, que se faz na nossa casa também.Tudo isto indica que o projeto de igreja auditório / culto conferencia não poderia mesmo se encontrar na igreja primitiva nem no modelo de igreja idealizado para o desenvolvimento da vida cristã que se encontra em atos dos apóstolos e nos documentos antigos da igreja.Apenas não combina com liturgia que é a participação da comunidade no culto, não combina com auditórios imensos e lotados, não combina com a comunhão ao redor da mesa celebrando a vida eterna em Cristo, não combina com uma fé simples desprovida de bens materiais suntuosos e de hinos de vitória financeira, não combina...
Podemos ainda resgatar a fé primitiva da igreja e seus benefícios, mostra o caminho dos cultos familiares, dos encontros de ágape na casa dos irmãos, dos encontros underground da igreja que celebrava a ressurreição e a vitória contra a morte, a ceia o ponto alto do culto, o banquete profético anunciando o banquete que é o reino de Deus, começando hoje na vida do cristão e apontando para uma vida eterna ao lado do Rei e Mestre.Jesus ressuscitou há de ser a palavra destes encontros familiares, que não serão grupo dos doze e nem dos treze, mas serão o ato de comunhão e eucaristia que projetou o cristianismo a frente de seu tempo e até a eternidade, é um alerta e ao mesmo tempo um convite, para uma renovação, para voltar ao principio de tudo, à igreja underground.
OUTRUBRO- 2009- PASTOR SILAS RAHAL
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Acho que quando uma congregação cresce muito, é preciso distribuir os irmãos em pequenos grupos onde será possível restabelecer uma comunhão mais íntima. Acho que o conceito de ceia de fato é melhor entendido dentro do contexto das refeições comunitários pelo ambiente propício que tais encontros proporcionam. No livro "Por que você não quer ir mais à Igreja" de Wayne Jacobsen (o mesmo da "Cabana") e Dave Coleman, há uma passagem em que Jake, o personagem principal, encontra-se com João num dos encontros comunitários em sua casa. Repentinamente João celebra a Ceia com uma autentica, breve e direta oração, sendo que tudo ocorre com a maior naturalidade e simplicidade no meio de um banquete. Já no festejado texto "Era uma Igreja muito engraçada", o qual pode ser facilmente localizado pelo Google, a ceia é celebrada no auge da confraternização e dentro de um relacionamento bem espontâneo: "Quando o sol estava se pondo, Filomena trouxe um enorme pão italiano e um tonelzinho com um vinho que a família dela produzia. O ápice da reunião havia chegado, pela primeira vez o silêncio tomou conta do lugar. Todos partiram o pão, encheram os copos de vinho e os olhos de lágrimas. Alguns abraçados, outros encurvados, todos beberam e comeram em memória de Cristo". No polêmico texto o que predomina é o compartilhar entre os irmãos durante o encontro informal, o que demonstra o anseio atual de pessoas da Igreja pela comunhão uns com os outros, o que a meu ver precisa ser redescoberto junto com o relacionamento nosso com Deus.
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